terça-feira, 26 de janeiro de 2010

No supermercado



Alguns dias atrás eu disse que não tinha certeza se conseguiria caminhar por uma estrada reformulada, sem em um ou outro momento cair em antigas fraquezas, mas que tentaria ao máximo fazê-lo. Hoje, sinto-me aliviado.
Desde novembro voltei a visitar o antigo supermercado novamente. O folheto de ofertas era como sempre colorido, chamativo. Os preços pareciam valer a pena quando comparados com a concorrência. Mesmo sabendo que já tinha adquirido produtos ali com o prazo de validade vencido, e que a textura aparentemente bela fez-se amarga a cada colherada, comprei por dias e dias a idéia de um futuro melhor. Na vitrine muitas luzes, que não chegavam a cegar os clientes, apenas tentavam, mas eu, já vacinado, entrei na loja com meus óculos escuros, e escolhi os produtos racionalmente, sem pressa, dando um passo de cada vez.
A cada dia voltava ao supermercado sem barreiras, de coração limpo, sempre tomado pelo velho intuito de não me arrepender pelo o que não tentei. E deu certo! Quer dizer, não deu. Mas ao menos não me sinto arrependido por ter tentado. Considero que deu certo porque meu coração continua cheio do desejo de ser mais, de viver plenamente, de me dedicar ao que acredito e ao que almejo, sem pestanejar, sem uma lágrima sequer. Se ela ainda virá (a lágrima), não sei. E também não resistirei, faz parte de todo processo similar a este.
Não encontrei o produto. “Ele está esgotado” - disse o repositor. E não significa que não o encontrarei um dia. Sem desespero. Sem paranóias. Vivendo com leveza - citando novamente Kundera – porque escolheria o peso?
Saí do supermercado por volta da meia-noite sem bater a porta e sem discutir com a moça do caixa. Pela primeira vez nesta situação não era necessário sequer alterar o tom da voz. Pedalei rumo a minha casa sentindo o ar fresco desta madrugada veraneia. “Não preciso deste produto no momento, estou muito bem com o que tenho em mãos...” - concluo.
O incidente foi apenas um buraco na estrada, daqueles bem pequenos. Não quebram a suspensão, nem tampouco impedem o carro de chegar ao seu destino.

5 comentários:

  1. ....bravo...! =D
    e assim a vida segue... rs
    ^^

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  2. Impressionante!!!

    É duro buscar outras tantas redes de supermercados melhores e com mais ofertas de ótimos produtos, quando estamos acostumados e nos sentimos atraídos por aquele mercado do nosso bairro...

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  3. talvez tenha algum que embora um pouquinho mas longe, não tenha doces tão enjoativos ;)
    te amo :*

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  4. Interessante seu espaço, muito criativo e fora das mesmices que leio por aí...te sigo, abraço

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