quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tempo que resta


Sinto-me como se começasse hoje.
Não que eu deseje que o passado desapareça. Não posso e nem quero apagá-lo da mente e dos registros. Apenas do blog. Quero registrar a partir de hoje o desejo e a luta por viver um futuro com mais coragem. Intenção. Foco.
Digo isso porque o passado foi morno. Ok, com algumas pitadas de calor intenso, mas poucas, longe de ser o suficiente. Aprendi muito, sem dúvidas, mas não o suficiente. Já beiro a casa dos trinta, poxa! E existem tantas coisas que já gostaria de ter feito, como aprender outros idiomas, viajar, conhecer lugares, pessoas, culturas, ler mais livros, muitos outros, vários, enfim, muita coisa. Sinto-me atrasado, um desperdiçador de dias lindos.
Também não afirmo aqui que conseguirei sem tripudiar. Sem cair em antigas fraquezas que por tempos e tempos ofuscaram meu brilho, me tiraram do centro, me descarrilaram do trilho. Mas vou insistir, isso eu garanto. E escreverei sempre que necessário, sempre que sentir que estou quebrando o eixo, deixando bem claro que escrevo para mim, pois assim busco me entender nas próprias entrelinhas do que escrevo, e sigo em frente.
Se me perguntarem porque estou aqui a resposta pode não agradar a todos, com certeza não agrada a muitos. Porque então não tento fazer com que um dia nunca seja menor que o outro já que não aguardo nada mais ‘brilhante’ em outra dimensão? Digo menor no sentido de não dar importância a um dia vivido. No sentido de achar que ‘um dia a menos, um dia a mais’ não é nada. Sim, é muito!
Não pense que de agora em diante vou sair todos os dias para uma badalada festa, ou me acabarei em orgias sexuais com o intuito de aproveitar o máximo.
Quero ter sentido.
Pretendo estar focado. E não apenas em um ponto.
Seja na carreira, no que quero com a música, nessa minha paixão nem sempre colocada em primeiro plano, seja na minha vida pessoal, tão balançada, tão emocionalmente frágil, alicerçada sobre colunas feitas de espuma de sofá antigo.
Quero descansar a sombra de uma árvore, sentir o vento tocar o rosto, apreciar o pôr do sol, o seu nascer, o céu, coisas simples, gratuitas, tão descartadas no dia a dia de trabalho-faculdade-relacionamentos conturbados, enfim: rotina. Por que!?
Pra que rotina? Não sou uma máquina de café expresso. Sou algo que esta aqui, seja lá o porquê, e deve viver, ser, existir.
Sim, preciso trabalhar. Não digo também que daqui por diante serei hippie. Mas posso viver o gratuito mesmo assim. O importante é não se deixar viver numa medíocre rotina sem sentido.
O convívio com grandes amigos, momentos de amizade sem valor estimável, conversas e ‘viagens’ impagáveis, que já acontecem desde sempre em diversos momentos, estão incluídos nesse pacote.
A família, o valor que dou a ela, o curtir detalhes que podem parecer insignificantes a primeira vista, mas que são tão importantes para eles e também para mim deverão também ser melhor observados.
Enfim, viver. Viver o “tempo que resta”, parafraseando o filme que hoje me fez despertar para toda esta reflexão.
Não sou Romain, o protagonista vivido pelo ator Melvil Poupaud, que na história, devido a um câncer generalizado, tinha de um mês a no máximo um ano de vida.
Mas posso ter no máximo um dia. Dez. Dois meses. Quem sabe a respeito disto?
Não deixar que o hoje seja tão vazio quanto o ontem.
Deixar de pensar que o hoje pode ser amanhã.
Simplesmente existe muito a se fazer agora.
E lá vou eu.

O tempo que resta (Le temps qui reste) - França/2005
Direção e roteiro: François Ozon
Elenco: Melvil Poupaud, Jeanne Moreau, Valeria Bruni Tedeschi, Daniel Duval, Marie Rivière, Christian Sengewald, Louise-Anne Hippeau, Henri de Lorme, Walter Pagano, Ugo Soussan Trabelsi.
Trailer: assista aqui

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