sábado, 9 de janeiro de 2010

Beleza e tristeza


 
Entre as últimas atividades desenvolvidas em uma das disciplinas que cursei em 2009 na graduação, estava a leitura de um livro literário. No primeiro dia desta atividade, a professora chegou com mochilas e sacolas repletas de livros e os espalhou sobre algumas carteiras agrupadas. Nossa primeira tarefa enquanto alunos era a de contemplar aqueles livros, e escolher o que nos acompanharia durante as seis ou sete semanas seguintes.
Alguns escolheram pela quantidade de páginas, já antevendo que seria mais fácil dar conta de um livro curto. Outros optaram por exemplares recheados com figuras. Existia ainda o chamariz das capas, com suas cores e formas, direcionando alguns a escolha. Eu fiz minha escolha pelo título, encantado com a junção destes dois substantivos: beleza e tristeza.
A segunda tarefa era simples: deveríamos nos acalmar, aquietar-se dentro da correria normal de final de ano, e passar duas horas por semana dentro da sala de aula em silêncio, imersos no livro escolhido.
Para alguns alunos essa atividade tornou-se uma sessão semanal de tortura. Para outros, um momento especial de lazer. Eu, no entanto, acrescentaria muitos adjetivos a segunda opção.
Agraciado pela escolha, a cada página lida ficava mais envolvido pela história. Já não me lembrava que aquelas duas horas semanais se tratavam de uma disciplina obrigatória, e passei a aguardar ansiosamente por este momento semanal de leitura na faculdade.
Tudo isso porque para mim o livro Beleza e tristeza do premiado escritor japonês Yasunari Kawabata, é sem dúvida uma obra de arte.
Entre as características marcantes do livro está a forma fantástica que Kawabata tornou presente a tradição japonesa em meio a história. Seja nas citações sobre música e dança, ou nas perfeitas descrições sobre a arte do chá e das festas japonesas, o leitor tem a possibilidade de realmente ‘viajar’ até os locais descritos. Além disso, Kawabata ainda cita constantemente fatos históricos e filosóficos do oriente, sem tornar a leitura chata ou a narrativa pesada.
Vale lembrar que a ligação entre beleza e tristeza embutida no enredo não é atual. Para muitas crenças e filosofias, tudo o que é belo possuí necessariamente sua face destrutiva, negra. O próprio budismo defende tal argumento, alicerçando-se nas conseqüências provocadas pelo simples ato de se desejar algo belo, o que levaria o indivíduo do desejo ao sofrimento, ou seja, da beleza à tristeza.
Em seu romance, Kawabata permeia os limiares da beleza e da tristeza nas relações de seus personagens. Ele monta uma história apaixonante em torno de um caso extraconjugal e de suas penosas conseqüências, que transcorreram décadas das vidas dos personagens envolvidos, envolvendo até mesmo os que chegariam muitos anos após os acontecimentos primários (qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência).
A cada trecho somos levados a imaginar a beleza das coisas e das pessoas perfeitamente descritas pelo autor. No decorrer da história, após essas constatações de beleza, somos logo em seguida levados a ter noção da tristeza destinada aos personagens, antes maravilhados com o belo. São frutos amargamente colhidos, resultados de suas atitudes, de suas obsessões, de seus desejos.
Seria a tristeza um destino obrigatório da beleza? Pergunto-me.
É claro, não preciso esclarecer aqui de qual beleza estamos falando, afinal, um belo pôr do sol nada tem de triste, é belo em toda a sua essência (se na hora ficamos tristes por lembrarmos de algum fato passado, tal fato não é fruto da beleza do acontecimento em questão – o lindo pôr do sol).
Ou seja, não é toda beleza que leva a tristeza.
Mas isso não quer dizer que podemos fugir dela. A tristeza é algo intrínseco ao ser humano. Todas as pessoas estão sujeitas a tristeza por inúmeros motivos, e nem sempre é possível sair da fase triste ileso. A depressão, por exemplo, pode ser uma de suas marcas.
O bom então é se concentrar nas coisas belas, buscando amenizar as tristes.
E não se esquecer das belas gratuidades, que não carregam em si a possibilidade de gerar tristeza.

Beleza e Tristeza
de Yasunari Kawabata
Editora Globo
2008 

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